domingo, novembro 13, 2011

Eis a força e a fragilidade das utopias!

O futuro existe?

O futuro não nos pertence, mas nos agarramos desesperadamente ao que projetamos. Eis o mistério da condição humana: viver a contradição entre o ser e o vir-a-ser. Da consciência do vir-a-ser nutre-se a esperança, mas também a certeza da impossibilidade. A esperança dá lugar à desesperança.

Mais desesperante é a consciência da impossibilidade de ofertar o futuro, de expressar a anulação das esperanças de outrem. O que esperar de quem se demonstra inábil em nutrir o sonho de um futuro feliz? Como alimentar esperanças se as expectativas do vir-a-ser não encontram correspondência? Como construir o futuro sem compartilhar?

É triste desempenhar o papel de “exterminador do futuro”, causa mortis dos sonhos e desejos projetados! É doloroso saber-se o leitmotiv da insegurança que frustra a promessa de uma caminhada comum. O que esperar de quem só pode oferecer o presente?

A rigor, sempre estamos sós com a nossa própria consciência. Esta é a solidão da qual não podemos fugir! No que diz respeito às relações humanas, há várias formas de estar junto. Quanto maior a exigência e a impossibilidade de caminhar a mesma caminhada, maior o sofrimento e o sentimento de desamparo – ainda que tudo seja projetado para o futuro.

Não obstante, por que a obstinação em pautar a vida em projeções futuras? Se pensarmos bem, o futuro não existe; quando muito é apenas um ideal que projetamos. O futuro nem chega a ser efêmero, mal se compara a uma rosa que desabrocha e fenece no mesmo dia! O não-ser é inerente ao vir-a-ser. Se não podemos garantir a existência no próximo segundo, se não temos o poder de controlar o tempo, por que vivermos com a certeza do amanhã? Por que não concentrar-se no presente?

É da condição humana! O ser humano é grávido de desejos e capaz de sonhar. Só para ele que a esperança tem significado, como também a angústia das decepções e sonhos frustrados. Apenas o humano captura o futuro – ainda que ilusoriamente, mas a ilusão é importante para viver e suportar as agruras da vida.

Assim, não basta o que o presente nos oferta, nos permite – por melhor que seja e por mais que nos faça felizes. Projetamos a felicidade futura, ainda que as projeções tragam em si os riscos inerentes ao viver. De repente, o futuro não parece tão radioso como víamos e surgem no horizonte nuvens carregadas que anunciam tempestade. Então, cobre como uma mortalha o presente. Vivemos o dilema de projetar no futuro as esperanças e, simultaneamente, permitir que tal projeção influencie e comprometa o presente.

Paradoxalmente, o vir-a-ser, ainda que contingente, lança-se com toda força sobre o presente, sem que, necessariamente, realize-se o potencial imaginado. O futuro embute em si o perigo de aniquilar as possibilidades inscritas no tempo presente. É fácil compreender, pois que a vida é um movimento contraditório e não uma imaginária linha evolutiva sempre na direção positiva. Os recuos e derrotas, angústias e frustrações, também constituem o viver.

É paradoxal, mas é da condição humana. É insensato imaginar que a vida se resuma ao pragmatismo de viver o agora, o hoje. O carpe diem também pode se revelar um subterfúgio! É a capacidade de pensar o futuro que nos diferencia dos demais animais. Só nós, humanos, cultivamos o desejo de abraçar o futuro e vivê-lo.

De certa forma, somos prisioneiros do que projetamos para um vir-a-ser que pode revelar-se efêmero e inatingível. Esquecemos que somos seres finitos. Portanto, a única certeza absoluta que o futuro nos reserva é a morte.

Eis a força e a fragilidade das utopias! Eis o cerne da condição humana, o dilema da existência. Na política, assume a forma da contradição entre a necessidade de reformas e a revolução, o ser e o vir-a-ser.

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