sábado, dezembro 31, 2011

Compreendo, o ser humano precisa de ilusões, necessita acreditar em mitos. A crença no absurdo explica-se por si: Credo quia absurdum.

Reflexões natalinas!


Admito, nesta fase do ano fico reflexivo, quase que deprimido. Sinto-me deslocado, e, de fato, minhas palavras e ações parecem indicar o desejo de isolar-se do clima natalino imperante. Por maior que seja o meu esforço, e o exercício da paciência, não consigo aderir ao espírito do natal. Respeito os que se juntam à onda, mas temo a tirania da maioria. A recusa a adaptar-se ao comportamento considerado normal nem sempre é tolerado pela opinião majoritária.

Talvez Freud explique e seja algum trauma da infância. Mas não sou freudiano e nada entendo da área. A julgar pela leitura recente de um artigo de Melanie Klein, parece que a culpa é da mãe![1] De certa forma, a “culpa” é dela, pois conseguiu, com esforço sobre-humano, criar a prole e oferecer a base mínima para a sobrevivência. Mas, ainda que leigo, também não embarco nesta onda. Se alguém é inocente nesta história, com certeza é a minha mãe. O que eu sou tem muito a ver com a formação que ela pôde oferecer nas circunstâncias da época, mas também sou a síntese das diversas experiências e influências que tive por toda a vida. Ela, portanto, não tem qualquer responsabilidade pelo fato do filho não curtir o natal.

Compreendo, o ser humano precisa de ilusões, necessita acreditar em mitos. A crença no absurdo explica-se por si: Credo quia absurdum. É desaconselhável tentar demover o indivíduo do que ele acredita piamente, por mais que pareça ilógico ao racionalista cético. Claro, o crente também é racional e, de certa forma, ele racionaliza a sua crença. Porém, o determinante é a fé. É preciso o esforço da compreensão, pois, afinal, a crença no absurdum é também uma manifestação da humanidade que nos faz semelhantes. Oh, homem sem fé, talvez tua vida fosse mais leve sem o fardo de não acreditares na imaginação e sentimentos da maioria!

Perdoe, caro(a) leitor(a). Este é o último post do ano e, sinceramente, gostaria muito de compartilhar com você que acredita religiosamente nos mitos construídos pela imaginação humana e fortalecidos pelos interesses econômicos do Papai Noel capitalista.[2] E isto foi consolidado de tal forma que praticamente nos sentimos culpados por não comprar os presentes – com o risco de ser taxado como avarento, sem contar a frustração dos que esperam ser presenteados.

Desculpe, caro(a) leitor(a). Não quero estragar a festa. Festeje bastante, coma, beba, presenteie e seja presenteado. Penso que isto lhe deixará mais feliz! E, no final das contas, é o que importa. Abstraia e evite pensar criticamente, apenas viva o momento. Seja feliz! A consciência crítica pode ser angustiante e lançar sombras sobre a sua felicidade. Perdoe, mas, por favor, tente compreender este meu jeito Grinch. Aliás, para a minha decepção, Grinch termina por aderir ao espírito do natal.[3] Eu, ao contrário, ainda não consegui me adaptar – apesar dos meus esforços.

Mas não quero terminar este ano como o chato do pedaço, o sociólogo – o que dá no mesmo, pois às vezes ambas as palavras são entendidas como equivalentes. Quero que saiba que, como escrevi em outro momento[4], reconheço a bondade dos outros e não sou ingrato a ponto de recusar os votos de Feliz Natal. Se muitos me desejam o bem, talvez eu o alcance. Ademais, para além das formalidades e hipocrisias próprias desta época, existem os sinceros, ainda que expressem seus sentimentos por emails. Há também os que amamos e que, no final das contas, terminam por nos envolver em seus mais puros sentimentos. O Natal passa, mas eles permanecem presentes em nossas vidas e em nossos corações. Eis o mais importante.

E que em 2012, você continue a brindar-me com sua leitura, críticas e contribuições. Tê-lo como interlocutor(a) é um privilégio e um presente. Meu sincero muito obrigado e um FELIZ 2012.[5]

Ps.: Retornarei em 7 de janeiro de 2012. Até logo e tudo de bom!

[1] Ver KLEIN, Melanie. Amor, culpa e reparação. In: KLEIN, Melanie. Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (1921-1945). Rio de Janiero: Imago Ed., 1996, p.346-384.

[2] Recordo de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, e do avarento Ebenezer Scrooge, que odeia o natal e pensava apenas nos lucros. Se vivesse hoje, saberia que o natal é um bom negócio e estaria muito feliz. Não sou como ele. Parafraseando Max Weber, tenho ojeriza ao “espírito capitalista do natal”. Dickens mostrava que o “espírito burguês” era uma chaga capaz de se alastrar e aniquilar os bons sentimentos e valores. De certa forma anunciava no que o natal se transformaria sob o capitalismo moderno. Ver O Espírito de Natal, 22.12.2007, disponível em http://antoniozai.wordpress.com/2007/12/22/o-espirito-do-natal/

[3] Ver O Espírito de Natal, 22.12.2007, disponível em http://antoniozai.wordpress.com/2007/12/22/o-espirito-do-natal/

[4] Ver o post citado acima.

[5] A propósito, sugiro a leitura de Feliz Ano Velho… e Novo!, disponível em http://antoniozai.wordpress.com/2008/01/05/feliz-ano-velho-e-novo/

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